Folclore, fonte da sabedoria popular

Hoje é o Dia do Folclore, quando se celebra no Brasil e no mundo a importância da cultura popular. Esta data foi escolhida em homenagem a William John Thoms, que em 22 de agosto de 1846  cunhou o termo “folklore” a partir da junção de “folk” (povo, popular) com “lore” (cultura, saber). Para seu criador o novo termo significava “saber tradicional de um povo”.

Um Saci que indica o caminho. Será que dá pra confiar?

Mais recentemente o folclore brasileiro vem se tornando um importante objeto de estudo para pesquisadores de diversas áreas. Além disso, tem despertado cada vez mais o interesse popular, como pode ser comprovado pelo amplo sucesso das séries Cidade Invisível e Fronteira Verde (que se passa na Amazônia), que fizeram ressurgir as histórias que tiravam o sono de nossos pais e avós em sua infância.

E, diga-se de passagem, contos, personagens, entes fantásticos, mitos e lendas estão presentes em todo o território nacional em tal quantidade que é difícil mensurar. Esse fenômeno pode ser explicado graças a fusão imaterial dos diversos povos que contribuíram na criação da nação brasileira, com destaque para três principais culturas que se fundiram e formaram nossa psique coletiva, a saber: portuguesa, africana e indígena.

Principais lendas Brasileiras

A relação a seguir é uma pequena amostra dessa incrível variedade de personagens fantásticos, mas serve para dar uma ideia da capacidade criativa do imaginário popular.

  • Iara: é uma linda mulher transformada em sereia por uma maldição, condenada a atrair com seu canto os homens para a morte;
  • Boitatá: uma cobra de fogo que vagueia pelos campos atrás da última centelha de vida de animais, ou pessoas, insepultos;
  • Saci-pererê: representado como um menino negro de uma perna só, vestindo um barrete vermelho e acompanhado de um pito de barro. É um espírito traquina que gora as pipocas na panela, azeda o leite e embaraça a crina dos cavalos. É o único que possui uma data específica, o 31 de outubro. O Dia do Saci foi criado como forma de valorizar o folclore nacional em contrapartida ao Dia das Bruxas (Halloween), que nada tem a ver com a cultura brasileira;
  • Curupira: duende de corpo peludo que tem os pés virados para trás, artifício que usa para confundir seus perseguidores. Considerado o protetor das matas e das caças, não perdoa quem desrespeita as forças da natureza;
  • Negrinho do Pastoreio: tem suas origens no extremo Sul do País e conta a trágica história de um menino escravizado condenado pelo patrão a morrer, depois de açoitado, comido pelas formigas por ter perdido seu cavalo baio de estimação. É o protetor dos desamparados e auxílio certo para localizar itens extraviados.

Sempre é bom lembrar que o conjunto de saberes de um povo não é letra morta. É algo que está em constante evolução, sendo reinventado e adaptado de acordo com a realidade do momento, de modo a refletir a condição atual da cultura popular. Isso se dá pela adição de novos elementos ou pela releitura dos contos antigos.

Nesse ponto cabe ressaltar a iniciativa da Editora Boneless, que ao lançar uma antologia totalmente dedicada ao folclore brasileiro, cria espaço para que uma nova geração de escritores possa fazer uma releitura dos mitos que habitam o imaginário das diferentes regiões do País.

Nas palavras da própria editora: "A Boneless está em busca de grandes autores nacionais, e não apenas isso, buscamos por suas histórias que se passam dentro de nosso território para evidenciar o quanto ainda falta para explorarmos os horrores de nossas lendas e crenças, que existem nos quatro cantos do Brasil".

Com certeza um prato cheio para quem gosta de terror!

Capa da obra

P.S.: a Editora Boneless abandonou o projeto sem aviso prévio, de modo que a obra Pátria Amada, Terror não será mais lançada.

Comentários

  1. Parabéns pelo texto Memento Mori. Pátria Amada, Terror é um livro interessante. O Brasil é um país muito rico na sua cultura popular folclórica, existem lendas e mitos em todas as regiões brasileiras. Umas mais conhecidas e outras menos, além das que você citou vou lembrar mais algumas. Caboclo d'água, Pisadeira, Torvo, Corpo-Seco. Álbum conhece mais alguma?

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    Respostas
    1. Aqui no Recife temos muitas também. O sociólogo Gilberto Freyre descreveu algumas no livro "Assombrações do Recife Velho". Como o Boca de Ouro, o Papa-Figo etc. Também temos a conhecida Perna cabeluda, a emparedada da rua Nova (do livro homônimo de Carneiro Vilela), entre outros.

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    2. Pena que a editora abandonou o projeto. Parecia mesmo interessante.
      E que bela capa!

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    3. Pois é, coisas que acontecem. Felizmente o conto que iria publicar nessa antologia será publicado brevemente em outra: Mistério sob as Águas. Com relação as assombrações de Recife, fiquei muito impressionado com a "perna cabeluda". Assisti a um vídeo de um jornalista que afirma ser o autor da história que gerou a crendice popular. Seja como for, já faz parte do folclore e está enraizada nos corações e mentes da população.

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    4. Sim, o jornalista pernambucano Raimundo Carrero, criador da perna cabeluda e ele mesmo uma lenda viva da literatura. Um livro dele que é raridade, "Os Segredos da Ficção - Um Guia da Arte de Escrever", só tem alguns exemplares usados na internet.

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