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Insônia

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D. Carmelina testemunhava o nascer de um novo dia, anunciado acintosamente pela claridade espraiando-se através das frestas da persiana. Assustada, a escuridão escondia-se pelos cantos enquanto ela rolava para o lado. Não buscava o sono perdido, pois este fugira há tempos. Levantou-se, vestiu o robe, seguiu para o banheiro e de lá para a cozinha. Num ato reflexo procurou a mesa posta para o café. Encontrou o tampo de fórmica coberto pelo trilho de crochê com um singelo bibelô servindo de enfeite. Aonde estava com a cabeça? Há um par de anos vivia sozinha. Essa condição inédita lhe impusera a mais desditosa das visitantes: a morte. Não a sua, obviamente, mas a de seu marido. Fora ele, por décadas, quem madrugara para cumprir duras jornadas de trabalho. Saía cedo, deixando tudo pronto para ela e os rebentos. A prática converteu-se em hábito, mantido inclusive depois da aposentadoria. Estendeu a toalha - última sobrevivente do enxoval. No armário pegou a xícara de us...

A Capela : um amor escrito nas estrelas

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Segunda parte do conto A Capela - para ler a primeira parte clique aqui . Graças as informações obtidas na transcrição do diário que encontramos na fazenda de D. Zelinha, pude dar início a uma série de pesquisas que ajudaram a compreender a intrincada, e trágica, história de Akil e Lourdinha. Essa parte do trabalho foi fácil porque a vida pública de alguns dos envolvidos está disponível em sítios da Internet dedicados a biografar personagens do passado. Apesar de não citarem os jovens amantes, o conteúdo ali obtido serviu para tecer o pano de fundo que ajudou a compreender as motivações que levaram os protagonistas a assumirem seus papéis. Os pormenores de maior interesse estão registrados no manuscrito, os quais trazem esclarecimentos fundamentais sobre a cronologia dos fatos, que de outra forma jamais seriam conhecidos. Nesse sentido, temos que agradecer a tia de Lourdinha, responsável pelos últimos apontamentos, escritos após a morte da menina.  Com base no material recolhido, ...

A capela : noiva fantasma

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A maneira como se deu o desfecho do caso de Camila (para ver  Amor de mãe : o jardim dos condenados, clique aqui ) trouxe uma paz de espírito que não experimentava há anos. Estava aliviado e feliz por ela ter conseguido encontrar seu caminho, deixando para trás os desgostos que enfrentara enquanto viva. Essa paz interior foi acompanhada por um período de relativa tranquilidade nas solicitações de ajuda. Por experiência sabia que a calmaria não duraria para sempre. Decidi aproveitar a oportunidade para descansar e me dedicar ao meu passatempo favorito: a fotografia. Antes que minhas habilidades paranormais aflorassem e se tornassem conhecidas, costumava vagar pelo interior do Rio e de Minas em busca de paisagens e outros motivos que não o frenesi da vida urbana. Foi durante um desses passeios que encontrei, escondida nos campos de um hotel fazenda no Vale do Café, uma antiga capela relativamente bem conservada. Estava praticamente intacta, faltando apenas alguns detalhes de pouca im...

O Dia em que D. Cissa comprou um celular

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Seu nome é Cecília, mas todos a conhecem por D. Cissa, uma senhorinha faceira que finalmente vai realizar um sonho há muito acalentado: comprar um celular. Quem a vê a caminho da loja com seu vestidinho florido, unhas feitas e um sorriso nos lábios nem desconfia o que essa mulher passou na vida. Filha única de um prestigiado comerciante carioca, conhecido pelo rigor com que controlava a família e pela liberalidade demonstrada com as moças de vida fácil, desde cedo descobriu o significado da palavra submissão. Não que tivesse plena consciência de sua situação, visto que o contato com o mundo exterior era ostensivamente vigiado pela mãe e pelas criadas que serviam na casa. Ao atingir a mocidade os cuidados paternos foram redobrados e ela sentia-se cada vez mais sufocada pela clausura na qual era obrigada a viver. Talvez influenciada pelas fotonovelas que surrupiava no consultório do ortodontista ou pelas conversas frívolas com as colegas de classe, Cecília passou a acreditar que o casam...

Andarilhos

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Após lerem o causo da Visagem Noturna (clique aqui para ver) alguns leitores assíduos do blog enviaram  relatos de suas experiências com esse tipo de entidade a quem chamamos Andarilhos por sua característica de estarem sempre de passagem. Aliás, chamou a atenção a semelhança de alguns desses encontros, de modo que sintetizamos todos em três causos. Como sempre, os nomes foram alterados para preservar a privacidade dos envolvidos.  Se você quiser ver sua história aqui no Memento Mori é só mandar para nós! Na estrada Na época em que ainda eram noivos, Anderson e Fernanda decidiram aproveitar o  fim de semana para visitar uma tia dela que morava em Ipiabas, um distrito de Barra do Piraí, no interior do Rio de Janeiro, que até hoje é um destino turístico cujo principal atrativo é a tranquilidade. No sábado a noite, como não havia muitas opções de lazer por ali, os dois resolveram ir até a sede do munícipio para dar uma volta e...