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Prematuro

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No final de março, após uma chuva benfazeja amenizar a secura de um verão interminável, saí para espairecer. A temperatura agradável suavizava meu permanente senso de urgência, fruto das inúmeras solicitações de ajuda, tanto de vivos quanto de mortos. Há uma praça bastante arborizada relativamente perto do local onde resido e para lá me dirigi. Considero um privilégio desfrutar desse oásis verde em meio a paisagem de asfalto e concreto. O trinar dos passarinhos, as corridas frenéticas dos cães, as risadas das crianças têm o poder de afastar de mim as sensações amargas herdadas dos eventos dolorosos que costumo tratar. Ao menos era o que eu esperava. Sentado num banco apartado do burburinho, sondava a esmo. A vinte metros divisei uma babá distraída, mexendo no celular. No carrinho a sua frente um garotinho ria e esticava os bracinhos. Não para ela. Absorta, ignorava a agitação do menino. Os gracejos eram para uma jovem que o contemplava com afeto e desampa...

Amor de mãe : o jardim dos condenados

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Segunda parte do conto Amor de Mãe - para ler a primeira parte, clique aqui . A permanência de Camila no plano material gerou em mim um profundo sentimento de frustração por não ter conseguido ajudá-la a fazer a passagem. Sabia que a decisão era única e exclusivamente dela, que seus motivos eram plenamente compreensíveis, mas nem isso afastava de mim o desejo de vê-la, finalmente, seguir seu caminho em paz. Mantive uma rotina de visitas regulares ao casarão. A tranquilidade que reinava no ambiente proporcionava uma fuga da vida agitada e das constantes solicitações de ajuda. Antes de ir embora, D. Helena preparava um café com bolinhos, servido na mesa da cozinha. Por vezes Camila surgia e ficava observando os mortais conversando sobre trivialidades cotidianas. Ela achava graça de novidades que não chegara a conhecer, como telefonia celular, internet e sinal de wi-fi. No comecinho do inverno recebi uma mensagem de uma amiga que estava na região serrana do Rio de Janeiro. Ela exercia um...

Amor de mãe : possessão

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Durante os meses que se seguiram à conclusão do caso da chácara assombrada ( clique aqui para ver Como Nasce um Fantasma ) o assédio de solicitantes aumentou consideravelmente, ao ponto de ter que realizar uma triagem para separar os pedidos de ajuda reais daqueles que visavam pura e simplesmente saciar uma curiosidade mórbida sobre minhas habilidades paranormais. Na época em que me vi envolvido com os acontecimentos relatados a seguir, eu havia trocado o número do meu telefone na  esperança de ter um pouco de sossego. O que não impediu uma senhora de me abordar assim que passei pelo portão do edifício. Pelo visto, ela ficara de tocaia, aguardando aquela oportunidade. Antes que pudesse dizer qualquer coisa ela segurou meu braço com firmeza e disse num tom suplicante: —  O senhor precisa me ajudar ... Ela tinha os olhos pequenos e vívidos, tais como os de uma tia muito querida que não está mais entre nós. Estavam marejados e seu rosto e...