Merica

As luzes do amanhecer banhavam Angelo em pé no convés do vapor Vittoria. Estava ali porque carecia do alento oferecido pela brisa fresca da manhã. O ambiente opressivo do alojamento coletivo tornara-se insuportável após tantas noites acumulando o cheiro de centenas de suores dormidos. Essas pausas amenizavam as náuseas que o acometiam. A repulsa era tamanha que nem o infindável balanço infligido pelas ondas o perturbava. Desistira de procurar equilíbrio por ser desnecessário. A massa humana compactada impedia a queda por falta de espaço. Viajava ombro a ombro com a multidão de emigrantes italianos que fugiam da miséria. A ociosidade forçada dava-lhe tempo para refletir a respeito das consequências advindas da troca do Vêneto pelo desconhecido. Recriminava-se por ter lançado à sorte esposa e quatro filhos, todos sufocando no porão apinhado de gente. Não fora isso que planejara. Não fora isso que prometeram. Há exatos vinte dias embalaram seus parcos pertences e...