Codicilo

A bem da verdade preciso confessar que sempre fui uma pessoa comum. Ao contrário de outros, a natureza parece ter esquecido completamente a minha existência durante a distribuição de dons. Inteligência mediana, nenhuma aptidão para esportes, aparência simplória. Por outro lado, enquanto a genética se deleitava em me pregar essa peça, o destino tinha outros planos. E tudo começou da forma mais inocente que se possa imaginar. — Já é madrugada - resmunguei olhando o relógio na parede - é hora de parar. Foi na época da pandemia e eu estava em isolamento, em casa, há pelo menos um ano. Devido ao confinamento prolongado a percepção da passagem dos dias estava comprometida ao ponto de eu não respeitar mais os limites biológicos relativos ao dia ou a noite. Estava embaralhada ao ponto de não fazer muita diferença saber se estava claro ou escuro lá fora ou que horas seriam naquele instante. — Azar. Só mais uma e vou dormir. Fazer pesquisas aleatórias no computador era uma estranha forma de ...