A Guardadora de Lutos

Enquanto dava os últimos retoques nos pertences da Sra. Gherta, D. Mirthes não conseguia afastar um pensamento incômodo que lhe atormentava há algum tempo. Olhou pela janela em busca de algo que a distraísse e afastasse essa sensação de aperto no peito para fora de seu corpo. Inutilmente. Em sua simplicidade, D. Mirthes não podia aceitar que essa angústia surgisse justo agora que sua vida ia tão bem como nunca havia ido até então. Nascera em uma família humilde. Desde cedo lutava contra a pobreza e sonhava em ter uma vida melhor. Não necessariamente de fartura, mas pelo menos digna. O sucesso – esse eterno pregador de peças – sempre evitara sua porta, frustrando cada uma de suas tentativas de ganhar algum dinheiro para si e para sua família. Sem estudos ou profissão, sua contribuição para o orçamento dependia de trabalhos manuais, tipo costurar para fora, fazer bolos, pintar guardanapos, essas coisas que as senhorinhas prendadas aprendiam a fazer em sua juventude. A mais recente, inusi...