Uma vida passando a limpo

Era sexta-feira, final de outono. Estava tranquilo na minha poltrona, curtindo as luzes da tarde que se infiltravam entre as persianas da janela quando o telefone tocou. A semana fora relativamente calma e já não esperava ser solicitado aquela hora. Meus clientes preferem ligar de manhã cedo ou no início da noite, horários em que acordam dos pesadelos ou se preparam para enfrentá-los. Seja como for, o toque insistente do celular quebrou a modorra e trouxe-me de volta à realidade. A julgar pela agitação da pessoa do outro lado da linha, o assunto era de natureza singular. Um mistério que precisava ser desvendado antes que o levasse a loucura. Pedi que se acalmasse e fornecesse detalhes. Pelo que entendi era outro caso de manifestação sobrenatural, gerando desconforto no mundo dos vivos. O detalhe é que eu moro no Rio de Janeiro e o solicitante numa cidadezinha em Minas Gerais. Apesar disso, insistia para que eu o atendesse imediatamente. Como se tratava de uma viagem de seis horas - não...