Família é para sempre

Dia desses acordei mais tarde que o de costume. Era um sábado sem compromissos na agenda - fato raro que aproveitei para repor as energias dando uma esticada na cama. Entorpecido pelo sono, entrei na cozinha para colocar água para ferver, ávido por degustar um café recém coado com a calma que a tranquilidade da manhã sugeria. Ao entrar, deparei-me com meu avô sentado num mochinho, sob a luz que entrava pela vidraça, iluminando o jornal que lia com certa dificuldade. Aproximara o papel do rosto e acompanhava as linhas com o dedo, como se isso pudesse atenuar os efeitos da miopia que o atormentava. A cena seria corriqueira não fosse por um detalhe. Seu Hermann, como costumava chamá-lo, falecera há pelo menos vinte anos. Relembrando o fato percebo que nem foi isso que chamou minha atenção na hora. Primeiro pensei: — Por que ele não coloca os óculos? E em seguida: — De onde saiu esse jornal? Ele tinha em mãos um exemplar do Correio do Povo de Porto Alegre, no formato standard - aquele...