Sinal dos tempos

O visor fosforescente do rádio-relógio marcava exatamente seis horas. Josimar acordara há pelo menos trinta minutos. Permanecia deitado, sentindo o leito vibrar na frequência dos veículos trafegando abaixo de sua janela. O ronco de uma motocicleta com o escapamento aberto encerrou definitivamente a sonolência que embalava os resquícios da madrugada. Pontual como sempre, o motoqueiro barulhento sinalizava o início de uma nova jornada. Rolou cuidadosamente para a beira do colchão e sentou. Bocejou tateando com os pés em busca das chinelas. Movimentava-se lenta e silenciosamente. Temia despertar Etelvina, sua esposa. Ela costumava ser irascível o dia todo. Estremunhada era pior e ele retardava propositalmente a experiência. Por uma fresta na cortina espiou através da vidraça. Nuvens pesadas obstruíam a incipiente luminosidade matutina. Estavam no inverno, mas um calorzinho fora de época fazia crer o contrário. Mantendo o ritmo calmo, passou pela porta. Fechou-a atrás de si para isolar o q...