Postagens

Mostrando postagens de 2021

Contando ninguém acredita

Imagem
Nunca é fácil lidar com a perda de um ente querido e cada pessoa tem sua forma particular de expressar os sentimentos nesse momento singular, em que a existência se depara com a finitude. Que dizer de uma mãe que perde um filho? Ou de uma viúva que precisa lidar com a herança deixada pelo marido? E o que fazer quando somos instados a estar presentes pelo dever da solidariedade? Essa coletânea traz três contos que abordam temas delicados, mas não por isso menos importantes, com leveza e bom humor. São estórias baseadas em fatos reais, por mais incrível que pareça. Vitor Mateus Teixeira, o Teixeirinha Transmitindo em todas as frequências Numa pequena cidade da Região Sul do País viviam Seu Hélio e Dona Maria. Eram pessoas simples, batalhadoras, que trabalhavam muito para sustentar cinco filhos com dignidade. Dentro do possível, levavam um vida tranquila, quando, inesperadamente, a cegonha avisou que viria visitá-los novamente. Levaram um tremendo susto! Estavam já com certa idade e não ...

O homem de vermelho

Imagem
Josias era um pão duro renomado. Sua fama se estendia além dos limites do bairro onde morava, tal a sofreguidão com a qual tentava amealhar fortuna. Tentava, porque além de sovina Josias era uma alma pobre em todos os sentidos. Nunca arranjara emprego por se considerar bom demais para ser funcionário de alguém. Nunca  iniciara um negócio próprio porque a palavra trabalho não fazia parte do seu vocabulário. E tinha delírios de grandeza o Josias. Em sua imaginação não havia outro tão sabido como ele próprio. Armava esquema sobre esquema para arrancar algum cobre dos incautos, sem sucesso. Quem seria ingênuo o suficiente para confiar em suas garantias? Corria atrás de quem tinha prestígio, dinheiro, ou de preferência os dois, tentando fazer amizade. Até concorreu a vereador convencido que a mamata seria farta. Concorreu, mas não se elegeu. Quem seria tolo o suficiente para acreditar em suas promessas?  Era tão ofuscado por essa falsa idei...

Sépia

Imagem
Era inverno e o dia estava lindo, com um céu azul para brigadeiro algum botar defeito. Para Vicente, que acompanhava o sepultamento de Jacinto, um amigo vitimado por um acidente, isso não estava certo. Em sua mente enterros deveriam, obrigatoriamente, ocorrer em dias nublados, de preferência com uma chuva fina a encharcar os casacos dos homens e os chapéus das mulheres. Mas enfim, fazer o quê se o tempo não queria colaborar. A cerimônia já havia terminado e algumas pessoas permaneciam conversando entre si, lamentando a perda tão precoce daquele jovem promissor. Vicente estava chateado, é claro, mas suportara bem o golpe da fatalidade. Regulava em idade com o falecido, do qual era próximo e de quem sentia muita falta. Sorriu de lado ao recordar algumas passagens impublicáveis, todas elas envolvendo rabos de saia, que vivera com o amigo. Enquanto tirava um cisco do olho reparou em algo que chamou sua atenção. Uma lápide de granito bastante antiga, na qual se destacava a fotografia de uma...

Olho por Olho

Imagem
  Vista do alto, a Floresta Amazônica parece um imenso tabuleiro verde, recortado por um emaranhado de rios e áreas alagadas. Esses mananciais são tão vitais para a manutenção da vida quanto os recursos oriundos da terra, pois é deles que os habitantes tiram seu sustento. Por isso não é de estranhar que a água ocupe lugar de destaque no imaginário das diversas raças que tentaram dominar esse reino indomável. E quem desdenha o conhecimento que emana desse saber coletivo corre o risco de se tornar vítima das circunstâncias por pura ignorância dos costumes locais. Tomemos como exemplo o caso do Caboclo Chicotada, homem de corpo e alma calejados pela vida na selva. Na cidade seria desdenhado por ser analfabeto e desconhecedor das etiquetas ditas civilizadas. No seio da mata, entretanto, é o companheiro que todos desejam ter, principalmente em momentos de aperto, graças a sabedoria natural adquirida pela experiência, convívio com os filhos da terra e incontáveis aventuras. Suas estórias...

Codicilo

Imagem
A bem da verdade preciso confessar que sempre fui uma pessoa comum. Ao contrário de outros, a natureza parece ter esquecido completamente a minha existência durante a distribuição de dons. Inteligência mediana, nenhuma aptidão para esportes, aparência simplória. Por outro lado, enquanto a genética se deleitava em me pregar essa peça, o destino tinha outros planos. E tudo começou da forma mais inocente que se possa imaginar. — Já é madrugada - resmunguei olhando o relógio na parede - é hora de parar. Foi na época da pandemia e eu estava em isolamento, em casa, há pelo menos um ano. Devido ao confinamento prolongado a percepção da passagem dos dias estava comprometida ao ponto de eu não respeitar mais os limites biológicos relativos ao dia ou a noite. Estava embaralhada ao ponto de não fazer muita diferença saber se estava claro ou escuro lá fora ou que horas seriam naquele instante. — Azar. Só mais uma e vou dormir. Fazer pesquisas aleatórias no computador era uma estranha forma de ...

Folclore, fonte da sabedoria popular

Imagem
Hoje é o Dia do Folclore, quando se celebra no Brasil e no mundo a importância da cultura popular. Esta data foi escolhida em homenagem a William John Thoms, que em 22 de agosto de 1846  cunhou o termo “folklore” a partir da junção de “folk” (povo, popular) com “lore” (cultura, saber). Para seu criador o novo termo significava “saber tradicional de um povo”. Um Saci que indica o caminho. Será que dá pra confiar? Mais recentemente o folclore brasileiro vem se tornando um importante objeto de estudo para pesquisadores de diversas áreas. Além disso, tem despertado cada vez mais o interesse popular, como pode ser comprovado pelo amplo sucesso das séries Cidade Invisível e Fronteira Verde (que se passa na Amazônia), que fizeram ressurgir as histórias que tiravam o sono de nossos pais e avós em sua infância. E, diga-se de passagem, contos, personagens, entes fantásticos, mitos e lendas estão presentes em todo o território nacional em tal quantidade que é difícil mensurar. Esse fenômeno p...

Paulo Cattelan participa de antologia do terror

Imagem
  Foto divulgação da editora Boneless Foi com muita satisfação, orgulho e alegria que recebemos a notícia que o conto Olho por Olho foi  selecionado para integrar uma coletânea nacional de contos de terror sobrenatural com ênfase no folclore brasileiro. Trata-se da antologia Pátria Amada, Terror! , uma iniciativa da Editora Boneless -  uma casa editorial totalmente dedicada ao terror e ao sobrenatural - que com essa iniciativa busca encontrar autores nacionais que adotam essa temática para evidenciar o quanto de horror ainda falta ser explorado em nossas lendas e crenças, espalhadas pelos quatro cantos do País.  Após um processo seletivo que contou com uma expressiva adesão de interessados, foram selecionados textos inéditos de vinte autores nacionais, sendo que cada autor participa com um conto. O processo de editoração encontra-se bastante adiantado e o lançamento da obra está previsto para o início de setembro deste ano. Quanto ao nosso conto, posso dizer a...

O Dia em que D. Cissa comprou um celular

Imagem
Seu nome é Cecília, mas todos a conhecem por D. Cissa, uma senhorinha faceira que finalmente vai realizar um sonho há muito acalentado: comprar um celular. Quem a vê a caminho da loja com seu vestidinho florido, unhas feitas e um sorriso nos lábios nem desconfia o que essa mulher passou na vida. Filha única de um prestigiado comerciante carioca, conhecido pelo rigor com que controlava a família e pela liberalidade demonstrada com as moças de vida fácil, desde cedo descobriu o significado da palavra submissão. Não que tivesse plena consciência de sua situação, visto que o contato com o mundo exterior era ostensivamente vigiado pela mãe e pelas criadas que serviam na casa. Ao atingir a mocidade os cuidados paternos foram redobrados e ela sentia-se cada vez mais sufocada pela clausura na qual era obrigada a viver. Talvez influenciada pelas fotonovelas que surrupiava no consultório do ortodontista ou pelas conversas frívolas com as colegas de classe, Cecília passou a acreditar que o casam...

Andarilhos

Imagem
Após lerem o causo da Visagem Noturna (clique aqui para ver) alguns leitores assíduos do blog enviaram  relatos de suas experiências com esse tipo de entidade a quem chamamos Andarilhos por sua característica de estarem sempre de passagem. Aliás, chamou a atenção a semelhança de alguns desses encontros, de modo que sintetizamos todos em três causos. Como sempre, os nomes foram alterados para preservar a privacidade dos envolvidos.  Se você quiser ver sua história aqui no Memento Mori é só mandar para nós! Na estrada Na época em que ainda eram noivos, Anderson e Fernanda decidiram aproveitar o  fim de semana para visitar uma tia dela que morava em Ipiabas, um distrito de Barra do Piraí, no interior do Rio de Janeiro, que até hoje é um destino turístico cujo principal atrativo é a tranquilidade. No sábado a noite, como não havia muitas opções de lazer por ali, os dois resolveram ir até a sede do munícipio para dar uma volta e...